terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Coisas de primeiro mundo


 Publicados• 25 de dez. de 2012

    Hoje 24 de dezembro de 2012 com quasse duas semanas de atraso, cheguei aos EUA na cidade de Brownsville no Texas. Muitos fatores causaram todo este atraso os quais certamente eu não havia previsto ou até mesmo nem haviam passado por minha cabeça.
Se alguém estiver planejando algo parecido, reserve duas semanas para documentação nas aduanas e para o transporte de seu veículo (moto), seja do Equador ou da Colômbia para o Panamá.
    Quando cheguei à fronteira entre o Brasil e o Peru, os tramites para entrada no país não demoraram mais do que quarenta minutos e no Equador demorou um pouco mais por causa da exigência de um seguro o qual é feito em uma seguradora distante três quilômetros da aduana.
    No Equador tive que contratar um despachante para fazer a documentação e providenciar o transporte de minha moto para o Panamá aí a onda de atrasos começou. No primeiro contato que tive com o despachante, perguntei-lhe para quando seria possível embarcar a moto e este me respondeu que seria possível no dia seguinte caso iniciássemos os tramites imediatamente. Fiquei empolgado com a eficiência do despachante e certamente contratei o serviço. Bem, no dia seguinte o cara me informou que a empresa aérea havia lhe informado que o embarque seria para o próximo domingo. Fiquei muito nervoso, pois estávamos numa segunda-feira e assim a enrolação foi adiante onde até o desembarque no Panamá se passaram oito dias.
    Nas aduanas seguintes, Costa Rica, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Guatemala, tudo o que puder imaginar de malandragem, falta de vergonha e exploração ao turista, você encontrará.
    Em uma destas aduanas, onde é comum não haver nenhuma orientação ao turista, que me pareceu ser proposital, cheguei a um galpão onde mais parecia um depósito de transportadora caracterizada por muita sujeira e um ambiente desagradável.
    Ao chegar, perguntei a pessoa que estava no local onde eu poderia fazer a documentação e esta me respondeu que em breve eu seria atendido. Sentei em um banco improvisado que havia no local e fiquei esperando. Após uns vinte minutos sem sinal de qualquer ação por parte do eficiente funcionário, resolvi perguntar para um segurança que estava no local e este mostrou-se muito prestativo e deu-me informações sobre os procedimentos. Muito comum, é a exigência de cópias dos documentos e quando perguntei-lhe onde eu poderia tirar as benditas cópias, este me disse que seria a quase quinhentos metros do local onde estávamos.
Ao me dirigir em direção ao local informado, o segurança me chamou e disse que iria me ajudar tirando as cópias no escritório de atendimento do eficiente funcionário o qual havia-me dito que em breve eu seria atendido.
Após alguns minutos, o segurança retornou e me entregou as cópias e também me ajudou a preencher um formulário. Eu fiquei agradecido pela ajuda e para recompensá-lo, de espontânea vontade e disfarçadamente, tirei cinco dólares de minha carteira e tomando muito cuidado para que ninguém visse, tentei entregar a ele. Para minha surpresa, este me disse que não aceitaria, pois todo o serviço prestado no local era sem custo.
Fiquei meio sem jeito, pois eu não esperava este comportamento exemplar do segurança. Após alguns minutos, este me entregou a documentação e me disse que precisava conferir o numero da placa e chassi da moto e assim nos dirigimos para onde ela estava estacionada. Enquanto nos dirigíamos ao estacionamento ele me disse... _Agora eu posso aceitar a gratificação, pois estamos fora do alcance das câmaras.
Com os papéis em mãos, tive que ir a uma casinha que mais parecia um banheiro publico e esperar a boa vontade e dois funcionários que não aparentavam nenhuma vontade de trabalhar. Bem, eu cheguei ao local as 18:00h  e saí as 23:00h.
Nas demais aduanas a coisa não foi muito diferente com exceção da Costa Rica.
No México não houve qualquer problema, e o que me deixou perplexo foi a necessidade de fazer um depósito caução no valor de quatrocentos dólares para poder circular com minha moto pelo território mexicano. Isto contribuiu ainda mais para ultrapassar o limite do meu cartão. Foram rápidos em sem qualquer complicação, exceto no momento em que me apresentei na saída do país, o atente me solicitou três cópias de meu passaporte e quando as entreguei, este carimbou o passaporte e me devolveu as cópias que havia pago um dólar. Não entendi, e resolvi não questionar, pois eu estava muito apreensivo e preocupado com a próxima etapa, a entrada nos EUA.  
Meu dinheiro havia acabado quando cheguei à cidade de Puebla no México, o meu anjo da guarda, o Schneider, me ajudou emprestando mil pesos para que eu pudesse chegar até a fronteira com os EUA.  Eu tinha dinheiro, porém em cartão Global Travel American e no México, não encontrei nenhum banco que tinha coligação com a American, e assim, acabei ficando sem dinheiro. Meus sinceros agradecimentos ao Schneider pela hospedagem, pelo empréstimo e pela paciência em andar comigo pela cidade à procura de um banco que aceitasse o cartão Global travel.
Minha preocupação era com os custos que poderiam haver para a entrada nos EUA, pois me restavam trinta dólares no bolso. Eu poderia utilizar o meu catão de crédito, mas eu não sabia até quando, pois o limite já havia sido ultrapassado e a qualquer momento o cartão poderia ser bloqueado. Ao acessar a aduana dos EUA em uma edificação de primeiro mundo, o oficial me pediu o passaporte e após os devidos registros me indicou o próximo local para dar continuidade ao processo. Estacionei a moto e outro oficial verificou minha bagagem e novamente me indicou para onde ir. Desta vez, para um edifício muito bonito e claro com instalações muito bem cuidadas. Esperei não mais do que quinze minutos e fui atendido. Meu passaporte foi carimbado e na sequencia o mesmo oficial pediu-me para me dirigir ao guichê ao lado para pagar uma taxa. Neste momento fiquei muito preocupado, pois eu tinha apenas trinta dólares e um cartão de crédito em vias de ser bloqueado. Retirei o cartão de crédito e entreguei-o para o oficial e este me devolveu perguntando se não tinha dinheiro em espécie. Pensei... Agora ferrou. Perguntei... _Quanto? e ele respondeu..._Seis dólares. Put’s... que alivio. Paguei e perguntei qual seria o próximo passo para fazer a documentação de minha moto. Ele respondeu... _ Nada mais. Isto é tudo. _Você deverá fazer um seguro de sua moto em uma seguradora na cidade e boa viagem.  Coisas de primeiro mundo!
E assim entrei na cidade de Brownsville. Fiquei sem palavras. Parei e fiquei observando a paisagem pois a ficha ainda não havia caído. Cara! você chegou!!! Veja ... você chegou! Eu não conseguia pensar... Olhei para o chão, olhei para o céu, olhei para minha moto e aos poucos eu me convenci... realmente cheguei lá! 

Esta viagem não foi feita em trinta e quatro dias, mas sim, em quarenta anos, pois, em minha adolescência eu comecei a sonhar e me preparar para fazê-la. Agradeci a Deus por permitir chegar ao meu destino sem qualquer problema e a todos que me acompanharam até aqui.




Universidade de Brownsville - Texas

Bem, agora que eu já havia me convencido que eu realmente havia chegado... eu estava sem combustível e com apenas vinte e quatro dólares no bolso e assim tive que ir ao primeiro posto de combustível. Seja o que Deus quiser. Ao chegar ao posto, eu já sabia que não havia frentista, porém, eu não sabia como era o procedimento. Perguntei para uma mulher que estava abastecendo o seu carro e ela me orientou.
Fui ao caixa dentro de uma espécie de mini mercado e lá deixei meu cartão de crédito e um documento. Indiquei qual bomba ia utilizar e lá fui eu. Abasteci e retornei ao caixa. O pagamento com o cartão foi efetivado e me senti um pouco aliviado, mas, restava ainda o saque no caixa automático. Enquanto esperava na fila para pagar o abastecimento, ao olhar para o lado, vi um caixa automático com a bandeira American Express e pensei...Acho que estou salvo. Me dirigi a ele, olhei para a cara dele e tentando entender o seu funcionamento e após alguns segundos, introduzi o cartão e esperei aparecer alguma informação na tela e nada. Retirei e inverti a posição do cartão e nada! Tentei varias vezes e sem sucesso. Bem... acho que agora a vaca foi pro brejo. Mesmo assim eu ainda pensei que pelo fato de não conhecer o funcionamento do caixa automático, eu poderia estar fazendo alguma coisa errada e resolvi pedir ajuda para a balconista a qual me informou que o caixa estava quebrado. Depois dessa, eu vi novamente uma luz no fim do túnel.
Fui procurar uma seguradora para fazer o seguro da moto e logo adiante encontrei, porém, faziam seguros apenas para motos mexicanas e americanas. Perguntei ao atendente onde poderia encontrar uma seguradora que aceitasse fazer um seguro para a minha moto brasileira e este me indicou uma empresa na Highway 77 a cinco quadras de onde estávamos passando por baixo da ponte, Bajada Ruben Torres três quilômetros adiante no restaurante do Tony Romas na empresa Samborn ao lado.
Mais perdido do que cego em tiroteio, lá fui eu. Tentei e não encontrei nada. Parei em outro posto e resolvi comer alguma coisa e pensar o que fazer. É comum ter caixa automático nos postos de abastecimento e neste, o caixa não estava quebrado, então, mais uma tentativa. Introduzi o cartão, coloquei minha senha, solicitei o valor e após eternos dez segundos o dinheiro foi liberado. Arri égua. Estou salvo!!!



Hotel em Brownsville, Texas

Na fila para acessar a aduana americana

Primeiro abastecimento em território americano
Após matar a fome, decidi encontrar a rodovia para Houston e seguir viagem sem seguro mesmo. Mas eu precisava de um mapa e parei novamente no primeiro posto que encontrei. Entrei na conveniencia e perguntei se havia um mapa do Texas e o atendente apontou onde estava. Peguei um e perguntei o preço e este me disse...__It’s free. _ Free? Coisas de primeiro mundo! Aproveitando, perguntei como fazer para pegar a rodovia 77 High Way para Houston e ele respondeu. É esta que está ai uma quadra a frente...
Lá fui eu. Entrei na rodovia e ao rodar uns dois quilômetros, na via lateral eu vi um Storage e parei no acostamento para observar se havia um acesso, pois eu queria saber o custo mensal do aluguel de um depósito para guardar minha moto pois talvez eu iria precisar.
Como não havia acesso, resolvi seguir e quinhentos metros adiante encontrei o acesso para Bajada Rubens Torres, o restaurante Tony Romas e a Seguradora Sanborn. Sem querer encontrei o endereço que o cara da seguradora havia me dado. Já que eu a havia encontrado, resolvi fazer o seguro pois seria  uma preocupação a menos. 
Entrei no escritório e disse ao atendente que precisava fazer um seguro para minha moto e este me informou que a seguradora ficava no escritório na porta ao lado, porém, por ser véspera de natal estava fechado.
A recepção na qual eu estava pertencia ao hotel. Bem, já que eu estava em um hotel, resolvi ficar hospedado ali mesmo, pois, eu estava muito cansado por ter circulado por uma cidade desconhecida como todas as outras que passei, porem, a euforia por ter conseguido chegar aos USA, consumiu um pouco mais as minhas forças. Agora tenho que planejar a próxima etapa. Tenho que me encontrar com meu filho que está me esperando em Miami e não sei se vou conseguir chegar lá antes de seu retorno para o Brasil. São quase tres mil quilômetros que terei de rodar em tempo record de tres dias ou guardar a moto em um Storage e seguir de avião até Miami. A seguradora está fechada e sómente após o natal poderei fazer o seguro para prosseguir... Bem... vou descançar e depois pensarei o que fazer.

Puebla - México. Casa do Schneider

Casa de cambio na cidade de Mata Morros - Fronteira com os USA - Brownsville Texas

O por do sol chegando na cidade de Mata Morros fronteira com os USA